O presidente da ApexBrasil, Jorge Viana. EFE/Divulgação ApexBrasil

Brasil busca estreitar laços comerciais e recuperar protagonismo na América Latina

São Paulo (EFE).- Um dos pilares do planejamento estratégico do governo brasileiro desde que Luiz Inácio Lula da Silva voltou ao poder, em janeiro, é restabelecer e fortalecer os laços diplomáticos e comerciais com a América Latina, um mercado no qual o país tenta recuperar o espaço perdido nos últimos anos, segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).

“É uma prioridade para este governo promover a integração comercial entre os países da América Latina. O Brasil pretende retomar a liderança econômica e comercial, além da liderança em projetos ambientais, energéticos e de infraestrutura na região”, afirmou em entrevista à Agência EFE o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana.

Ele lembrou que, nos últimos 20 anos, o Brasil perdeu peso no comércio sul-americano: em 2003, era o principal parceiro comercial de seus vizinhos, e seus produtos representavam 17% das importações dos países do subcontinente, mas essa porcentagem caiu para 12,7% em 2022.

Além disso, ressaltou que o país perdeu, nos últimos anos, 40% do fluxo de comércio com a Argentina, seu maior parceiro comercial da região.

“De fato, o Brasil ficou ausente de mercados importantes nos últimos anos (…) De lá para cá, a China, ou a ter 26% de representatividade em todas as compras da América do Sul”, disse.

Diante disso, Viana considerou que “há uma enorme janela de oportunidade” para ampliar as relações comerciais e diplomáticas e promover uma integração regional, que “aumentará a atratividade da região para atração de investimentos e para impulsionar a inovação”.

“Estamos à procura de parcerias que não se limitem a aumentar as nossas exportações, mas que permitam que todos prosperem”, afirmou.

América do Sul e Mercosul, os principais parceiros

Em 2022, o comércio do Brasil com os países da América do Sul movimentou US$ 73,7 bilhões, o que faz do subcontinente o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas de China e Estados Unidos.

Já o Mercosul, bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, é o quarto principal destino das exportações brasileiras, atrás de China, EUA e União Europeia, com 4,9% do total exportado em 2022, com destaque para produtos como veículos, petróleo, máquinas, eletrônicos, plásticos, ferro e aço.

Em 2023, a ApexBrasil lançou estudos sobre Argentina, Bolívia, Paraguai, Peru, Colômbia, Chile e Mercosul que mostraram que a América do Sul oferece mais de 13 mil oportunidades de negócios.

Assim, com o objetivo de explorar melhor essas possibilidades e gerar mais investimentos, o Brasil organizou um encontro estratégico em outubro, em Bogotá, capital de um país onde foram mapeadas mais de 1.500 oportunidades e que tem o Brasil como seu terceiro maior fornecedor internacional.

O evento reuniu, durante três dias, empresários brasileiros, organizações setoriais, os setores de promoção comercial das embaixadas e consulados brasileiros na América do Sul e representantes dos Ministérios da Agricultura e Pecuária, e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

“Investir em parcerias estratégicas na América do Sul não só impulsiona nossa economia, mas também solidifica a imagem do Brasil como parceiro comercial”, insistiu Viana.

América Central e México

No que diz respeito aos países da América Central e México, as relações comerciais com o Brasil movimentaram, em 2022, US$ 19,7 bilhões.

No entanto, o fluxo comercial da América Central e do México com os Estados Unidos é de US$ 828 bilhões, o que representa 55,4% do total.

“Em nossa avaliação, há um amplo caminho aberto para ampliar a nossa participação, intensificando uma relação que pode incluir também o incremento das compras brasileiras nesses países. Um exemplo é a demanda por proteína animal no Caribe, que recebe cerca de 50 milhões de turistas por ano, e atualmente é suprida principalmente pelos Estados Unidos”, argumentou Viana.

Para ampliar a participação nesses mercados, a ApexBrasil também realizou em outubro um encontro de setores de promoção comercial no Panamá, país considerado geograficamente estratégico por interligar os oceanos Atlântico e Pacífico por meio de seu canal e por ser um hub de conexão entre as Américas e a Ásia.

“Nesse sentido, o Brasil pode estabelecer novas parcerias comerciais, realizar promoção de feiras e eventos, além de criar canais de comunicação com entidades representativas na região, tendo como alvo outros países da América Central e Caribe”, explicou.

Desafios da integração

A América Latina é um “destino tradicional” para a internacionalização das empresas brasileiras, segundo um estudo da Fundação Dom Cabral divulgado em setembro de 2023, que aponta os EUA como o principal destino (16%), seguido da Argentina (13,8%) e do Paraguai (12,2%).

No entanto, de acordo com Viana, “historicamente, o mercado brasileiro e os de outros países da região foram estruturados de forma complementar aos mercados dos países desenvolvidos”.

Por isso, o “avanço do comércio intrarregional a pela necessidade de melhorar as conexões logísticas da América Latina, buscando complementaridade e promovendo o desenvolvimento interno”, além dos muitos desafios específicos correspondentes às distintas realidades de cada país.

“Esta aproximação com a América Latina é fundamental. Nossa proximidade geográfica e laços culturais fortalecem as relações comerciais, oferecendo oportunidades de expansão para nossas empresas”, concluiu Viana. EFE