Amaya Quincoces e Elena S. Laso.
Baku (EFE).- Com a cúpula do clima em Baku prestes a terminar e as atenções se voltando para a COP30 em Belém, a representante adjunta da ONU Mulheres Brasil, Ana Carolina Querino, destacou em entrevista à Agência EFE a importância de colocar as mulheres no centro da ação climática, embora ita que “a sociedade está muito polarizada” nesse âmbito.
A próxima cúpula mundial do clima em um estado amazônico coroará um percurso de 30 anos de reuniões do mais alto nível político em defesa do clima, realizadas em diferentes continentes com representantes de quase 200 países do mundo, para negociar soluções e ações globais contra o aquecimento global.
A COP30 será “o culminar no Brasil de uma série de cúpulas em defesa do planeta”, explicou a representante das Nações Unidas, depois de se referir à COP16 sobre biodiversidade deste ano e, mais recentemente, à cúpula dos líderes do G20 no Rio de Janeiro, com o desenvolvimento sustentável entre as questões centrais da agenda.
Pergunta:- Como você espera que seja a próxima COP no Brasil?
Resposta:– Será fundamental na questão do desenvolvimento sustentável, em sua totalidade, juntamente com a dimensão do meio ambiente; também a esfera econômica e essencialmente a inclusão social. Teremos que ver como pensamos em uma justiça climática, com equidade de gênero, como podemos promover uma maior participação social e uma maior integração das necessidades e demandas da sociedade. Será preciso conectar as discussões em fóruns intergovernamentais com a vida cotidiana das pessoas e a natureza.
P.- O que o Brasil aspira com esta cúpula?
R.– Não serão abordadas apenas as questões da mudança climática, mas também da biodiversidade, da desertificação e, essencialmente, do desenvolvimento sustentável. Não é possível pensar em soluções climáticas sem ter as mulheres no centro. Esperamos no Brasil a adoção de um forte plano de ação de gênero que considere as mulheres em sua totalidade. Não é possível pensar em direitos, em combate à mudança climática, em soluções climáticas, em adaptação, sem ter no centro as mulheres, todas elas, indígenas, afrodescendentes…
As soluções partem da convivência com a natureza de uma forma integrada. Não é possível pensar em direitos humanos e na preservação ambiental de maneira isolada. Nós somos naturais.
P.- Qual é a situação das mulheres no Brasil?
R.– Muito semelhante à do resto dos países com condições similares. As várias crises globais, não apenas as climáticas, nos últimos tempos, por exemplo também a pandemia do coronavírus, tiveram um impacto substancial nas mulheres, que enfrentam problemas e são vítimas de situações relacionadas, como emprego, violência, o a serviços e participação em espaços de tomada de decisão.
P.- Como é o respaldo às políticas de gênero atualmente no mundo?
R.– Temos uma sociedade muito polarizada. Boa parte da população apoia questões de equidade nas políticas públicas, mas não todo mundo. Os desafios são muito grandes; o processo de convencimento sobre a conexão entre gênero e questões climáticas de uma forma mais transversal está em curso. O tema vem ganhando força, com maior interesse dos coletivos femininos e participação de grupos de mulheres. Na COP29, por exemplo, vemos uma forte presença de mulheres indígenas. Elas estão muito afetadas pela crise climática, pela degradação ambiental, pela disputa por terras, pela mineração….
P.- Quem serão os protagonistas da COP no Brasil?
R.- Na cúpula da Amazônia, a participação social e a desertificação serão alguns dos protagonistas. Será preciso favorecer as sinergias entre a mudança climática e o desenvolvimento sustentável, porque nenhuma das decisões tomadas nas cúpulas internacionais sobre o clima pode ser tratada de forma isolada. Existem coletivos muito particulares. É o caso das mulheres de comunidades indígenas como as quilombolas, que veem soluções integradas na natureza e na defesa do território.
No Brasil existe um movimento de mulheres indígenas bastante organizado, mas ao nível de comunidades internacionais também foi desenvolvido uma pauta de equidade de gênero muito forte. À frente do Ministério dos Povos Indígenas do Brasil está uma indígena que vem do movimento social (Sonia Guajajara).
P.- Quais outros problemas afetam as mulheres rurais? Qual o impacto da febre dos minerais para a fabricação de dispositivos supostamente sustentáveis?
R.– Não sei se chamaria de colonialismo o aumento do extrativismo em países em desenvolvimento, o que existe é um enfrentamento por parte do Estado e as atividades ilegais de extração mineral em territórios indígenas, que causam maior impacto nas mulheres e crianças. Não estamos em uma emergência, mas nos perguntamos de onde vêm as pessoas que trabalham nessa mineração e onde vai parar o material coletado. Que é o que está acontecendo. EFE