Brasil busca ganhar “soft power” com a exportação de produtos amazônicos

São Paulo (EFE).- A exportação de produtos compatíveis com a preservação da floresta, especialmente os amazônicos, pode se tornar uma importante fonte de “soft power” para o Brasil no cenário internacional, mas atingir seu máximo potencial representa um grande desafio econômico, segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).

O setor de produtos compatíveis com a preservação da floresta movimenta cerca de US$ 150 bilhões por ano em todo o mundo, de acordo com a ApexBrasil. No entanto, o Brasil ainda aproveita pouco o potencial de exportação dos produtos amazônicos, segundo destacou, em entrevista à Agência EFE, o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana.

“De modo geral, os produtos amazônicos brasileiros têm uma participação média inferior a 1% no mercado internacional”, detalhou.

Desafios estruturais e conjunturais

Apesar do crescente interesse global por esses produtos, há dificuldades para sua inserção no mercado internacional. Entre os principais obstáculos está o desconhecimento por parte dos consumidores estrangeiros, o que afeta as exportações de farinha de mandioca e de castanhas típicas da Amazônia, por exemplo.

Já o setor pesqueiro enfrenta o desafio de ganhar escala devido à baixa tecnificação e à falta de organização dos produtores.

Além disso, a infraestrutura logística da região amazônica continua insuficiente. Para mitigar esse problema, o governo brasileiro tem investido na melhoria das conexões rodoviárias e fluviais com países vizinhos – Colômbia, Peru e Bolívia –, visando facilitar o o aos portos do Pacífico e abrir novas rotas de exportação para a Ásia.

Entre as iniciativas para melhorar a logística, a ApexBrasil assinou, em agosto do ano ado, um acordo de cooperação técnica com o Ministério dos Transportes para atrair investimentos estrangeiros nos setores rodoviário e ferroviário, com tecnologias de ponta.

Segundo a entidade, essa medida “facilitará significativamente a saída de produtos amazônicos, reduzindo os custos logísticos e aumentando a competitividade”.

Para impulsionar as exportações, a ApexBrasil também lançou, em 2023, o projeto Exporta Mais Amazônia, que conecta importadores e empresas locais, gerando cerca de 14 milhões de dólares em acordos comerciais em apenas duas edições.

Poder, inovação e sustentabilidade

A região amazônica fornece ao mercado internacional, principalmente, insumos agrícolas e minerais, o que faz com que as autoridades priorizem a diversificação das exportações, com ênfase em produtos sustentáveis.

Estudos realizados pela ApexBrasil indicam que a exportação de bens compatíveis com a preservação da floresta melhora a imagem internacional do Brasil e funciona como uma ferramenta de “soft power”.

 Essa estratégia pode ampliar a influência global do país, além de impulsionar inovação, sustentabilidade, inclusão social e hábitos de consumo mais saudáveis.

“Produtos como açaí, cacau, castanhas, óleos essenciais e artesanato indígena, frutos de tradições milenares, podem ser consumidos internacionalmente, configurando uma alternativa à exploração predatória, que contribui para a manutenção da floresta em pé”, afirmou Viana.

Nesse sentido, Viana ressaltou que a ApexBrasil tem promovido e apoiado iniciativas de biossocioeconomia para “manter a infraestrutura natural necessária” e garantir um progresso econômico contínuo, alinhado à preservação ambiental, à valorização do capital humano e ao bem-estar social.

Mercados e cooperação Sul-Sul

Entre os principais destinos dos produtos amazônicos estão Estados Unidos, China, Holanda, Alemanha, Japão e Malásia. Segundo a ApexBrasil, o crescimento das exportações para países desenvolvidos deve-se, em grande parte, às mudanças nas preferências dos consumidores, que buscam produtos derivados da biodiversidade.

Já nos países em desenvolvimento, as oportunidades de expansão decorrem da complementaridade produtiva, do potencial de desenvolvimento conjunto de cadeias de valor, da transferência de tecnologias e da convergência de princípios.

“O fato de concorrermos com países tropicais e em desenvolvimento engendra uma questão muito positiva, a da cooperação Sul-Sul como um dínamo de inovação, diversificação e inclusão social”, destacou Viana.

Para o executivo, o desafio do Brasil não é apenas ar os mercados existentes, mas também criar novos.

“Nosso objetivo é que o mundo conheça a riqueza cultural e produtiva abrigada nas nossas florestas”, concluiu. EFE