Assembleia de Governadores do BID começa com chamado à integração regional

Santiago do Chile (EFE).- O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) inaugurou nesta sexta-feira a reunião anual da sua Assembleia de Governadores com um chamado para fortalecer a integração na América Latina e no Caribe e o trabalho transnacional e multisectorial em plena guerra comercial internacional e diante de um contexto geopolítico em que o protecionismo está despontando.

“Precisamos nos organizar de forma transnacional e o BID ajuda nisso”, destacou durante o discurso de abertura do evento o presidente do organismo, o economista brasileiro Ilan Goldfajn.

Os encontros organizados pela instituição em Santiago do Chile começaram na última quarta-feira, com seminários temáticos prévios à 65ª Assembleia de Governadores do organismo e à 39ª do braço financeiro da instituição (BID Invest), que reunirão cerca de 3.000 representantes dos setores público e privado de 48 países.

Para Goldfajn, esta ampla participação reflete a convicção de que “o desenvolvimento exige ideias, investimentos, mas também a ação de todos os setores”.

“O BID tem que ser mais do que um banco. Continuamos trabalhando lado a lado com nossos países”, acrescentou o executivo.

Contexto geopolítico complicado

Por sua parte, o novo presidente da Assembleia de Governadores do BID, o ministro de Fazenda do Chile, Mario Marcel, itiu que o contexto geopolítico atual é complicado.

“Somos conscientes de que estamos vivendo tempos desafiadores no cenário internacional, mas também sabemos que a região da América Latina e do Caribe tem vantagens competitivas em diversas dimensões que nos permitem avançar”, ressaltou.

O anfitrião do encontro, o presidente chileno Gabriel Boric, enfatizou perante os ministros de Finanças e Economia da instituição a importância de que a região una suas forças.

“O isolacionismo, cortar pontes, erguer muros, impor tarifas unilateralmente não nos trará soluções. É justamente o trabalho conjunto, como nos permite e nos ajuda o BID, que nos permitirá continuar desenvolvendo”, argumento, em referência, principalmente, às atitudes do presidente dos EUA, Donald Trump, desde que reassumiu a Casa Branca em janeiro deste ano.

Para Boric, nenhum país, por mais “poderoso” que seja, será capaz de enfrentar os múltiplos desafios que a humanidade tem hoje de forma isolada. 

“Precisamos uns dos outros. Ninguém se salvará sozinho”, advertiu o presidente chileno.

Tarifas americanas

Apesar de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter anunciado que deve aplicar sua política de tarifas recíprocas em 2 de abril, data que batizou de “Dia da Libertação”, em um encontro anterior com a imprensa, anterior à abertura da assembleia do BID, o presidente da instituição preferiu não comentar sobre os possíveis impactos desta decisão. 

“É muito cedo para saber exatamente onde vamos e como estamos. O que podemos fazer é trabalhar pela integração da região, que tem 660 milhões de pessoas, além de ser um mercado importante e que pode atrair investimentos”, afirmou.

Goldfajn também disse à imprensa que seu objetivo é transmitir aos membros do BID, durante a assembleia, uma mensagem de união e progresso:e destacar os progressos na implementação do acordo estabelecido na edição anterior do encontro, celebrada em Punta Cana em 2024, quando foi lançada uma estratégia para aumentar a integração,englobada pela marca BID Impact+.

Capitalização e fortalecimento regional

Em 2024, os governadores também concordaram em aumentar o capital do BID Invest, braço privado da instituição, em US$ 3,5 bilhões.

Os países têm até 2026 para completar esse processo de capitalização, mas nesta sexta-feira foi anunciado que 19 já am as ações e outros 14 informaram avanços significativos nos os necessários.

“Estamos falando de 33 dos 48 países membros. Esses 33 representam mais de 70% dos votos do BID”, destacou Goldfajn como exemplo da boa dinâmica da instituição, que não realizava sua Assembleia de Governadores no Chile desde 2001.

Desde o início dos encontros no Chile, também foram lançadas novas iniciativas, como o programa BID Cuida, que busca melhorar a rede de cuidados para a população e reduzir a desigualdade, e o Conexão Sul, um plano cocriado pelos países da região para aproximar mercados fragmentados e ajudar a atrair investimentos.

O BID, fundado em 1959, atualmente registra mais de US$ 25 bilhões de dólares em financiamento anual, mas para 2030 almeja superar os US$ 38 bilhões. 

A instituição é uma das principais fontes de financiamento a longo prazo para o desenvolvimento econômico, social e institucional da América Latina e do Caribe, e seus três principais acionistas são os EUA, Argentina e Brasil. EFE