O papa Francisco. EFE/Arquivo/ALESSANDRO DI MEO

Papa Francisco afirma que renúncia é uma “hipótese distante”

Roma (EFE).- O papa Francisco descartou uma possível renúncia, que descreve como uma “hipótese distante” que só ocorreria devido a “um grave impedimento físico”, e disse que quando foi hospitalizado alguns no Vaticano estavam “mais interessados em política, em fazer uma campanha eleitoral, quase pensando em um novo conclave”.

“É verdade que o Vaticano é a última monarquia absoluta na Europa, e que aqui ocorrem frequentemente raciocínios e manobras cortesãs, mas estes padrões devem ser abandonados definitivamente”, destaca em “Life, My Story Through History”, sua autobiografia que será publicada na próxima semana, mas que teve trechos adiantados nesta quinta-feira pelo jornal italiano “Corriere della Sera”.

O jornal italiano publica trechos do livro escrito pelo papa de 88 anos com seu amigo pessoal Fabio Marchese, no qual faz uma retrospectiva de sua vida, desde a infância até a atualidade, e comenta grandes momentos históricos, desde a bombardeios nucleares em Hiroshima e Nagasaki ou o golpe militar na Argentina até a pandemia.

“Acredito que o ministério petrino é ad vitam e, portanto, não vejo condições para uma renúncia. As coisas mudariam se ocorresse um grave impedimento físico, e nesse caso já assinei no início do pontificado a carta com a renúncia que está depositada na Secretaria de Estado. Se isso acontecesse, eu não me chamaria Papa Emérito, mas simplesmente Bispo Emérito de Roma, e me mudaria para Santa Maria Maggiore para voltar a ser confessor”, afirma.

“Mas esta é uma hipótese distante, porque realmente não tenho motivos tão sérios para pensar em uma renúncia. Alguém, ao longo dos anos, talvez tenha esperado que mais cedo ou mais tarde, talvez depois de uma hospitalização, eu fizesse um anúncio desse tipo, mas não existe esse risco: graças a Deus estou bem de saúde”, acrescenta.

Sobre os ataques que recebeu, diz que ficou magoado com o fato de estar “destruindo o papado”: No conclave de 2013 “havia uma grande vontade de mudar as coisas, de abandonar certas atitudes que infelizmente ainda hoje lutam para desaparecer. Sempre há quem tenta travar as reformas, quem gostaria de permanecer imóvel no tempo do papa-rei”, afirma.

Francisco fala dos seus avós e que o piemontês, dialeto do norte de Itália, foi a sua “primeira língua materna”, sobre como a sua família escapou de um naufrágio em que morreram 300 migrantes no início do século XX, ou sobre filmes e canções italianas que sempre o acompanharam.

Ele também dá sua opinião sobre temas como o aborto, a barriga de aluguel ou o acolhimento de homossexuais na Igreja, ao mesmo tempo que se refere à sua relação com o antecessor, Bento XVI e fala de Diego Maradona, Lionel Messi e sua paixão pelo futebol.

Também comentou sobre o golpe militar na Argentina, quando escondeu três seminaristas, que o ajudaram “a acolher outros jovens em risco como eles, ao menos 20 em dois anos” e de seu papel na libertação de dois jesuítas expulsos pela companhia e sequestrado pelo regime.

“Foi um genocídio geracional”, diz o pontífice, que acrescenta: “As acusações contra mim continuaram até recentemente. Foi a vingança de alguns que sabiam o quanto eu me opunha a essas atrocidades”. EFE