Montevidéu (EFE).- O ex-presidente uruguaio José Mujica, que está tratando um tumor no esôfago diagnosticado em abril, está convencido de que o próximo governo do Uruguai, que sairá do segundo turno das eleições presidenciais em 24 de novembro, precisa ter “o melhor relacionamento possível com a Argentina e o Brasil”.
“A Argentina é um país muito complicado, tem problemas, mas eu sou um homem velho. A Argentina pula os problemas e depois segue em frente. E o Brasil vai ser uma potência. Nós o temos aqui ao lado. Vendemos mais para o estado de São Paulo do que para qualquer país europeu. O que estou dizendo a vocês é apoiado por dados”, enfatizou durante uma entrevista à Agência EFE.
Mujica enfatiza a importância do crescimento da economia e da tentativa de ser um país desenvolvido, a fim de ter “os meios necessários” e oferecer oportunidades para os jovens.
Acumulação de capital vs. desenvolvimento intelectual
“Até agora, a economia cresceu com base na acumulação de capital, mas a cada dia o desenvolvimento intelectual da população será cada vez mais importante”, opinou.
O momento das novas gerações será diferente, porque “o conhecimento será decisivo e isso requer uma sólida formação técnica e científica, que é muito mais cara do que a educação atual, porque não se fixa em um quadro negro e uma palestra, precisa de trabalho prático, laboratório, etc.”, comentou.
Mujica se lembra de um robô que chamou sua atenção durante uma visita ao Japão quando era presidente (2010-2015) e enfatiza que “uma mudança está chegando no campo do trabalho”.
Segundo ele, “preparar as pessoas para esse mundo é a função que deveríamos estar olhando hoje”.
Mujica lamenta que um tema tão importante como esse ou o futuro da agricultura não tenha feito parte do debate eleitoral nas eleições presidenciais do Uruguai, cujo segundo turno será disputado por Yamandú Orsi, candidato da Frente Ampla, partido de Mujica, e Álvaro Delgado, do conservador Partido Nacional, atualmente no poder.
“Eles não dizem uma palavra sobre o interior rural”, disse o ex-presidente, que defende a importância da agricultura para o futuro da economia de um país que ele define como “o país mais pecuarista do mundo”, como evidenciado pelo fato de ter 3,4 milhões de habitantes e 12 milhões de cabeças de gado. EFE