O presidente da Colômbia, Gustavo Petro. EFE/Arquivo/Mauricio Dueñas Castañeda

Petro suspende negociações de paz com ELN devido a “crimes de guerra”

Bogotá (EFE).- O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou nesta sexta-feira que está suspendendo as negociações de paz com o grupo guerrilheiro Exército de Libertação Nacional (ELN), o qual acusou de cometer “crimes de guerra” com o assassinato de signatários da paz das FARC na região de Catatumbo.

“O que o ELN cometeu em Catatumbo são crimes de guerra. O processo de diálogo com este grupo está suspenso, o ELN não tem nenhuma vontade de paz”, afirmou o presidente colombiano em sua conta na rede social X antes de viajar para aquela região, palco de um confronto armado entre o ELN e um grupo dissidente das FARC que deixou mais de 30 mortos, segundo a Ouvidoria Pública.

“O que está acontecendo em Catatumbo é extremamente grave”, disse a titular da Ouvidoria, Iris Marín, em sua conta no X, na qual relatou que “mais de 30 pessoas foram dadas como mortas, segundo informações que estão sendo confirmadas, com pelo menos cinco signatários da paz assassinados e 10 feridos”.

Marín acrescentou que há “sequestros, crianças sem acompanhamento ou pessoas com deficiências graves que não podem fugir, deslocamentos forçados, confinamento, inclusive de professores que se preparavam para o início das aulas”.

Em imagens divulgadas ontem nas redes sociais por moradores da região, é possível ver pessoas em alguns povoados buscando proteção em suas casas para escapar do fogo cruzado entre o ELN e o Estado Maior Central (EMC), um dos grupos dissidentes das FARC, que começou no meio da manhã de quinta-feira.

O líder guerrilheiro Andrey Avendaño, que foi negociador de paz do EMC com o governo, e que se apresenta como comandante da 33ª Frente de dissidência das FARC, disse ontem em uma mensagem de áudio, cuja autenticidade não foi confirmada pelas autoridades, que “o ELN decidiu atacar todas as nossas unidades” e “mataram civis e pessoas desarmadas”.

Esta nova suspensão das conversas de paz ocorre depois que nas últimas semanas houve indícios de que as negociações poderiam ser reativadas em uma reunião que deveria acontecer depois das de novembro em Caracas, quando a negociadora-chefe do governo, Vera Grabe, e seu homólogo do ELN, Pablo Beltrán, se encontraram, algo que não tinham feito desde 26 de maio e após um ano tempestuoso.

No início do ano ado, o governo iniciou no departamento de Nariño, na fronteira com o Equador, aproximações com os Comuneros del Sur, uma suposta cisão do ELN – sobre a qual a guerrilha diz que na verdade são infiltrados pelo governo para enfraquecê-los – e cujo líder é Gabriel Yepes Mejia, conhecido como ‘HH’ ou ‘Samuel’.

A situação preocupou o ELN, que exigiu que Grabe e sua equipe comentassem se estavam negociando em nível estatal ou local. De fato, nesta mesma semana, o comissário de paz, Otty Patiño, enviou uma carta a Beltrán deixando claro que não iriam parar de negociar com os comuneros e alertando os guerrilheiros que a paciência do governo não era infinita.

Houve também uma referência velada ao fato de que o ELN continuou realizando ataques durante todo esse tempo: desde o sequestro do pai do jogador de futebol Luis Díaz em outubro de 2023, até o ataque em setembro de 2024 contra uma base militar no departamento de Arauca que deixou três soldados mortos e mais de 30 feridos.

Petro chegou a dizer na ocasião que esse último ataque foi “praticamente uma ação que fecha um processo de paz com sangue”, embora a delegação governamental depois tenha suavizado a postura e afirmado que isso significava que iriam congelar a mesa, já que sempre estiveram dispostos a negociar. EFE