Jesús Centeno |
Pequim (EFE).- A China aumentou pelo terceiro ano consecutivo seus gastos com defesa em 7,2%, para US$ 245,6 bilhões, ignorando as propostas dos Estados Unidos de reduzir pela metade o orçamento militar das grandes potências.
O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, disse nesta quarta-feira, na sessão de abertura da Assembleia Nacional Popular (ANP, Legislativo), que o país continuará seus esforços para “melhorar a prontidão de combate e salvaguardar a soberania nacional”, depois de dizer anteriormente que seus gastos militares são “completamente necessários”.
A China se distancia assim da oferta de Donald Trump de negociar junto com a Rússia uma redução nos gastos militares.
A cifra também é divulgada em meio a tensões crescentes no Mar da China Meridional – rico em recursos e um ponto essencial para o comércio global -, exercícios militares para demonstrar sua força em diversas partes do Pacífico e com o foco voltado para Taiwan, ilha reivindicada por Pequim.
“Nós nos oporemos às atividades separatistas e às interferências externas (…) Avançaremos com firmeza na causa da reunificação”, destacou Li.
Suas declarações, alinhadas à postura do governo chinês nos últimos anos, atraíram aplausos dos quase 3.000 representantes que estão reunidos esta semana para elaborar o roteiro do país para os próximos anos.
O presidente chinês, Xi Jinping, que supervisionou a reunião desta quarta-feira, enfatizou nos últimos anos que não descarta tomar Taiwan se considerar necessário e que o Exército chinês deve se modernizar para diminuir a distância para os EUA e se preparar para possíveis confrontos.
Guerra comercial
Paralelamente, Li estabeleceu novamente a meta de crescimento do país em 5%, apesar de reconhecer o impacto da guerra comercial com os Estados Unidos após o retorno de Trump à presidência.
Minutos depois de delinear seu pacote de medidas, o premiê chinês reconheceu a “crescente complexidade do ambiente externo”, referindo-se ao retorno de Trump, que terá “um impacto maior” no país nos campos comercial e tecnológico.
“O unilateralismo e o protecionismo são um golpe para a estabilidade das cadeias de suprimentos globais”, declarou Li, que expressou seu temor de que “inúmeros focos de tensões geopolíticas” afetem a confiança do mercado e dos investidores.
A disputa entre as duas potências se agravou nesta semana com a imposição mútua de tarifas. Nesse sentido, Li garantiu que a China as enfrentará e que tem “uma vantagem institucional notável” e “um vasto mercado, recursos humanos abundantes e estratégias de longo prazo”.
Entre os planos está promover a inteligência artificial em larga escala para assumir a liderança nessa tecnologia, especialmente depois que o DeepSeek surgiu no cenário com um modelo de baixo custo que desafiou a supremacia dos americanos.
“Este ano veremos um desenvolvimento explosivo neste setor. O DeepSeek quebrou barreiras e mostrou que investimentos multimilionários não são necessários”, afirmou à Agência EFE Yang Debin, um delegado da região semiautônoma de Hong Kong, no Grande Salão do Povo de Pequim, a majestosa câmara na qual o regime comunista realiza essas sessões há 65 anos.
Mudança climática
Li também anunciou uma redução de 3% no consumo de energia por unidade do Produto Interno Bruto (PIB), embora o Greenpeace tenha dito em um comunicado hoje que o país está a caminho de “não atingir suas metas”.
A ONG acredita que a estratégia climática da China – que continua sendo o país que mais polui no mundo – deveria estar “melhor alinhada a um modelo que tenda à descarbonização”.
Por último, o premiê chinês antecipou a criação de subsídios para incentivar a natalidade, a fim de resolver o problema demográfico do país, cuja população vem diminuindo há três anos consecutivos.
O cuidado com as crianças será subsidiado – os altos custos de criação dos filhos são um dos principais obstáculos para os casais chineses terem filhos – e o cuidado com os dependentes será fortalecido à medida que o país avança com os planos de adiar a idade de aposentadoria.
Estima-se que até 2035 haverá mais de 400 milhões de pessoas com mais de 60 anos na China, representando mais de 30% da população, com um consequente impacto negativo na força de trabalho e na economia do país. EFE